O Sobrado

“Algumas estruturas arquitetônicas antigas, entram em processo de decadência física, pelo desaparecimento de suas funções como abrigo de atividade humana. A melhor maneira de reverter esta decadência, é dar a esta edificação uma nova atividade, a qual permita, inclusive o resgate dos significados simbólicos do seu passado..”

 

O seu aspecto original de um sobrado com arquitetura “luso-brasileira”, como muitos outros exemplares que sobreviveram ao Brasil Colônia, foi substituído pelo decorativismo em estilo “neoclássico”, influência difundia a partir das Missões Francesas patrocinadas pela Coroa Portuguesa para “modernizar” a nova sede da Corte.

 

A lápide hoje existente sobre a porta principal, onde se lê “1814-1920”, nos leva a crer que data a chegada à cidade de Parnaíba, desta modernização no estilo de vida.

 
sobrado
 

A Casa Inglesa, é hoje um dos melhores exemplares daquele estilo arquitetônico, o qual expressa o auge a que chegou a economia local da época. A presença no pavimento superior, sempre destinado ao uso residencial, de dezenas de utensílios e mobiliário de época de excelente feitura, os quais ainda se encontram em bom estado de conservação, é elemento enriquecedor ao potencial verificado.

 

O fato inédito, é a permanência “in loco”, de grande parte da documentação relativa às atividades econômicas geridas pela família no passado, também em bom estado de conservação, cuja análise possibilitará, com tratamento museológico, uma visão bastante ampla de como foi a evolução econômica e consequentemente cultura da cidade e até da região.

 
Arquiteto
Jéferson Dantas Navolar
 
 

Um Pouco de História:

Texto publicado nos anos 50
 
Dois ingleses no Piauí
 

Datava de 1814 quando o Brasil ainda não era nação independente a existência da Matriz da Casa Inglesa, em Liverpool, Inglaterra. Em 15 de maio de 1849, a empresa inglesa estabeleceu a sua filial como firma autônoma dando a seus principais colaboradores a gerência dos seus negócios. Passou, então, a CASA INGLESA, a girar sob a razão social de Andrew Miller & Cia., a qual teve, posteriormente, como chefe, Paul Robert Singlehurst que, em todo o Piauí, ficou conhecido como “Paulo Inglês”. 15 de maio de 1849 ficou sendo, por isso, a data oficial da fundação da CASA INGLESA.

 

Vinte anos depois, em 1869, chegava à Parnaíba, desembarcando do navio “Enterprise”, da Red Cross Line, no porto de Fortaleza, Ceará, um jovem inglês de 15 anos, chamado JAMES FREDERICK CLARK. Trazia um contrato de aprendizagem de cinco anos, assinado em Liverpool, com a loja do “Paulo Inglês”. No coração, trazia a esperança. Jamais teria pensado aquele meninote de 15 anos que o Brasil seria a sua segunda Pátria e que, um dia, o Piauí lhe erigiria, em praça pública uma estátua de agradecimento.

 

“Paulo Inglês” foi para o jovem Clark o mestre e o amigo e nele encontrou o auxiliar inteligente e prestimoso, o trabalhador incansável e autêntico realizador. Em 1884, já sócio da CASA INGLESA, JAMES FREDERICK CLARK casava, em Parnaíba, com dona ANA GONÇALVES CASTELLO BRANCO e, assim, se fixou definitivamente no Brasil. A Inglaterra perdera um inglês. O Brasil ganhara um piauiense.

 

A partir de 1.º de janeiro de 1900, a CASA INGLESA passou a girar sob a firma individual JAMES FREDERICK CLARK e, desde 1946, quando foi transformada em sociedade anônima, denomina-se ESTABELECIMENTOS JAMES FREDERICK CLARK S.A.

 
Há um século é pioneira
 

Desde sua fundação, a CASA INGLESA operou em todo o Nordeste e Norte do Brasil como empresa pioneira do desenvolvimento regional. Por iniciativa de JAMES FREDERICK CLARK, a cera de carnaúba foi introduzida no mercado internacional. A primeira remessa, em bases comerciais, foi feita pela CASA INGLESA, do porto de Amarração para Liverpool, em 27 de maio de 1889, pelo navio “Grangense”. A cera foi o principal produto de exportação do Piauí, e um dos principais do Maranhão e do Ceará, produzindo milhões de dólares para a economia do país. O primeiro automóvel, o primeiro trator, o primeiro motor, o primeiro jeep foram levados ao Piauí pela CASA INGLESA.

 

Em 1915, a CASA INGLESA introduziu, no Nordeste, o consumo dos produtos de petróleo e foi, 47 anos distribuidora. O querosene “Jacaré”, vendido pela CASA INGLESA, proporcionou durante muitos anos a iluminação dos pequenos lugarejos do Piauí. Posteriormente, também, foi a CASA INGLESA que forneceu o equipamento e instalou iluminação elétrica em 153 municípios do Piauí, Maranhão e do Ceará. Independentemente do lado comercial, a CASA INGLESA sempre promoveu empreendimentos de legítimo interesse coletivo ou social, tais como o Parnaíba Palace Hotel e o Campo de Esportes do Internacional Athletic Club, de Parnaíba, por exemplo.

 

As empresas do grupo ‘Casa Inglesa” dedicavam-se à atividades específicas, tendo em vista obter os resultados decorrentes da divisão do trabalho e da especialização operacional.

 
Curiosidades:
 

Durante a reforma nos anos 40 do atual apartamento denominado “Flor-de-Lis”, foram encontradas libras esterlinas de ouro entre os tijolos da das paredes. Naquela época era costume dos ingleses fazerem isso, pois acreditavam que as moedas trariam sorte e fortuna aos proprietários da casa.

 
Foram utilizados, na construção do Sobrado, cal de ostras e óleo de baleia como argamassa.
 
Assoalho:
 
Madeira originária do Pará – Madeira clara: pau cetim / Madeira escura: sucupira.
 

O assoalho de madeira olandim do Apartamento Clavel , antiga sala principal de visitas, veio da Ilha Grande do Paulino, no Delta do Rio Parnaíba.

 
Pérgola:
 
pergola

Desenhada por Septimus e Bruce de Mendonça Clark nos anos 40. O bougain-ville foi plantado na mesma época pela Sra. Aracy de Mendonça Clark, esposa do senhor Septimus James Frederick Clark, filho do senhor James Frederick Clark.

 
Significado da placa azul afixada na porta principal da casa:
 
“GN” significava “Guarda Noturna”e que a casa era vigiada por guardas que faziam a ronda durante a noite.